Os estigmas sobre a gravidez de cadeirantes em uma sociedade capacitista
Compartilhe este artigo
Priscilla Souza é formada em psicologia pela UNESP Bauru, pós-graduada em terapia comportamental pela UFSCAR e sexóloga pelo Instituto Casal Tessarioli
“Sexo não é para você”, “não vai conseguir cuidar”, “não deveria” e “a criança vai nascer com deficiência”, são alguns comentários que mulheres cadeirantes escutam quando falam sobre a possibilidade de ter filhos, além dos olhares de julgamento nos ambientes que frequentam. Tais constrangimentos caracterizam capacitismo, termo utilizado para se referir a discriminação de pessoas com diversidade funcional, ainda persistente no cotidiano.
Para a sexóloga e especialista no assunto, Priscilla Souza, é necessário muito luta para que esse preconceito acabe. Pioneira no debate do tema, ela conquista notoriedade na mídia por seu trabalho acerca da sexualidade de pessoas com deficiência. É também terapeuta comportamental e revela que já conviveu com alguns casos de grávidas cadeirantes. Sobre a discriminação, Priscilla afirma: “O maior obstáculo é o preconceito e a falta de preparo de alguns profissionais de saúde para receber essas mulheres”.
Esse estigma gera um conflito no entendimento social sobre a gestação e a vida sexual dessas pessoas. Afinal, a condição da mãe ou do pai pode ser reproduzida no filho?
Priscilla responde: “ Temos que saber também qual é a deficiência para entendermos os comprometimentos desta. Se é congênita, por exemplo, a minha, eu tenho 100% de chance de passar o gene da minha deficiência para o bebê. Ele leva o gene porque a minha patologia é recessiva. Quando não é congênita, não passa para o bebê. Não são todos que vão ter filhos cadeirantes. Até mesmo quem tem deficiência congênita, pode ter filhos sem, é relativo. Ninguém é igual a ninguém, e os cadeirantes também são diferentes”. Ressalta ainda que mulheres nessa situação devem passar por todo o processo comum de avaliação quando desejam engravidar e que devem cobrar de seus médicos, acessibilidade e um melhor preparo para recebê-las.