Como o comércio hackeia o cérebro no Dia das Mães

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Por Felipe Naumann*
Você acha que está escolhendo o presente ideal para a sua mãe. Mas, na verdade, seu cérebro responde a comandos invisíveis, ativados por campanhas publicitárias projetadas para mexer com suas emoções mais profundas.
O Dia das Mães é uma das datas mais sensíveis e poderosas no calendário varejista e, também, um dos momentos onde o neuromarketing opera com maior intensidade, transformando afeto em conversão.
É possível observar que o comércio não vende produtos nessa data, vende alívio da culpa, pertencimento e validação emocional. E tudo isso acontece dentro da sua cabeça antes mesmo de você perceber. Trata-se de um processo silencioso, mas preciso: o cérebro, ao ser exposto a estímulos relacionados à figura materna, ativa o sistema límbico (centro emocional), o núcleo accumbens (ligado à recompensa) e o córtex pré-frontal (decisão).
Essa combinação cria um efeito de urgência emocional, onde o consumidor sente que comprar é a única forma de expressar amor. O raciocínio lógico é temporariamente suprimido.
A equação é simples: quem te ama incondicionalmente merece tudo. E o varejo sabe manipular esse código emocional com perfeição. Exemplos práticos do mercado mostram como isso acontece:
-Campanhas com crianças e idosos falando sobre mães ativam empatia imediata e aceleram a decisão de compra.
-Frases como “Ela fez tudo por você. Agora é sua vez” carregam gatilhos de dívida emocional e reciprocidade.
-Pacotes de presente com frases prontas como “Amor eterno” oferecem a sensação de que o produto já vem com o sentimento embutido.
-Vitrines com tons pastéis, cheiros doces e música suave criam um ambiente que estimula memórias afetivas e reduz o senso crítico.
O alerta aqui não é contra o presente em si , mas contra o piloto automático emocional que tira do consumidor o poder da escolha consciente. O problema não é o marketing emocional. O problema é quando o consumidor não percebe que está sendo emocionalmente conduzido à compra.
Mais do que consumir, o verdadeiro desafio está em desenvolver consciência sobre o que nos move: trata-se de um desejo autêntico ou de um gatilho cuidadosamente plantado? Em datas carregadas de simbolismo, como o Dia das Mães, o comércio atua nos bastidores da emoção e só quem entende esse jogo consegue sair dele sem ser manipulado.

*O autor é palestrante, consultor e professor especialista em Neuromarketing, Inteligência Artificial, Marketing e Vendas.