Vale Tudo: Fim de relacionamento de Heleninha acarreta a dor do alcoolismo feminino

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Quem assistiu à novela Vale Tudo na década de 1980, certamente, tem na lembrança, a personagem Heleninha Roitman. Talentosa, intensa, frágil, uma mulher que amava profundamente e, após a separação de Ivan, mergulhou em algo mais perigoso que a solidão: a compulsão pelo álcool.
Décadas depois, a personagem ainda é atual. E não porque envelheceu bem, mas porque o drama dela continua sendo vivido por muitas mulheres reais, em silêncio. A psiquiatra Dra. Maria Fernanda Caliani explica que o alcoolismo feminino carrega uma dupla carga: a do vício e a da culpa. “A sociedade ainda julga a mulher que bebe. Enquanto o homem muitas vezes é visto como alguém que ‘exagerou’, a mulher é rapidamente taxada de fraca, desequilibrada ou irresponsável”, afirma.
O julgamento faz com que muitas mulheres escondam o problema. Bebem sozinhas, em casa, às vezes à noite, quando os filhos já dormem. O que começa como uma taça de vinho para “relaxar” se transforma em necessidade. E a necessidade, com o tempo, vira dependência. O fim de uma relação, como no caso de Heleninha, pode ser um gatilho.
“As emoções mal processadas, as dores do abandono, a sobrecarga mental e a falta de apoio emocional. Tudo isso pode levar ao uso do álcool como uma forma de anestesia emocional”, explica a médica.
Mas é preciso dizer com todas as letras: beber para lidar com a dor não é a solução. Pode parecer um alívio no início, mas o álcool não resolve. Ao contrário, aprofunda o sofrimento e abre espaço para uma doença silenciosa: o alcoolismo. “O alcoolismo é uma doença crônica, progressiva e multifatorial. Não é falta de força de vontade, nem uma falha de caráter. É uma condição séria que precisa de tratamento e acolhimento”, destaca a Dra. Maria Fernanda.
Dicas da Dra. Maria Fernanda para quem está passando por isso
- Reconheça que há um problema, sem se julgar;
- Admitir que a bebida está interferindo na sua vida não é um sinal de fraqueza. É o primeiro passo para o resgate da sua autonomia;
- Procure ajuda especializada;
- O tratamento pode incluir acompanhamento psiquiátrico, psicoterapia e grupos de apoio. Existem caminhos, e ninguém precisa enfrentá-los sozinha;
- Evite ambientes e relações que incentivem o álcool;
- Cerque-se de pessoas que te apoiem com respeito. Algumas mudanças são necessárias para a recuperação acontecer;
- Não ignore recaídas, mas aprenda com elas;
- Cada passo, mesmo os tropeços, faz parte do processo de cura. O importante é não desistir de você.
Ajuda familiar
- Não critique. Acolha.
- “Frases como ‘você vai beber de novo?’ ou ‘não tem vergonha?’ apenas aprofundam a dor e a culpa”, alerta a psiquiatra. Prefira: “Estou aqui pra você.”.
- Ofereça apoio prático e emocional.
- Acompanhe consultas, esteja presente nos momentos difíceis e incentive sem pressionar.
- Informe-se sobre alcoolismo.
- Conhecer os aspectos médicos e emocionais da doença ajuda a família a agir com mais empatia e menos julgamento.
- Cuide de você também.
- Quem acompanha alguém em sofrimento também precisa de apoio. Grupos como o Al-Anon são fundamentais.
A boa notícia? Existe tratamento. Existe saída. Existe vida depois do vício.
“Buscar ajuda não é fraqueza, é coragem. Cada mulher que enfrenta esse ciclo e decide transformá-lo é uma heroína da vida real”, finaliza a Dra. Maria Fernanda.

Se você se identificou com essa história, ou conhece alguém que esteja vivendo algo semelhante, saiba: você não está sozinha. O álcool não é saída, e sim um atalho para uma dor ainda maior. Mas sempre é tempo de escolher um caminho novo, com saúde, consciência e apoio.